15 de abril de 2018

Um texto sobre melancolia

Ninguém gosta de perder (embora estejamos fadados à isso), e Daniel não era diferente. A primeira perda foi a de sua mãe, que quando morreu virou "santa". Depois perdeu a ideia que havia construído sobre seu pai, quando este esfregou em sua cara, sem intenção, suas faltas, ou melhor, suas falhas.
Depois disso, a vida de Daniel mudou, antes sociável e alegre, tornou-se triste, começou a se sentir fracassado e por vezes parecia se punir por algo, passou a sofrer de baixo estima, deixou até mesmo de ir à praia do litoral que tanto gostava, a Anedonia o fez parar de sentir prazer em tal.
Quando era tomado pelas lembranças de sua mãe, tentava pensar apenas no bem que a mesma fez, em tudo aquilo que acertou, muito embora admitisse que quando tivesse seus filhos faria várias coisas diferente dela, quanto a criação. Coisas às quais na interação com seus a desejos, resultaram em determinadas interpretações, convertidas em ações, que segundo ele: "me levaram a certas escolhas... Mas as coisas eram diferentes há alguns anos atrás. [...] A culpa não foi dela", se redimia rapidamente para não ter que pensar a respeito, uma vez que a constância poderia ser perdida e assim resultar na tensão causada pela dor.
Quanto ao pai, intelectualizava dizendo entender suas razões, inventava mirabolantes explicações para suas falhas morais, para o abandono... Pois nunca sabemos o que o outro está passando não é mesmo?
Mas ele sim... Era um Daniel feio e falho, cheio de culpas, ser desprezível que merecia sofrer. E quem melhor que ele mesmo para ser seu carrasco, uma vez que lá no fundo, lá na parte mais desorganizada de si mesmo, possuía o conhecimento daquilo que não queria admitir e por tal merecia sofrer.
Pelos pais sentia um misto de amor e ódio. Engoliu o último para não deixá-los ir e se identificou, comprou a causa de forma tão bem comprada que quando o navio afundou, esqueceu como nadar e ignorou a bóia.

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