O início

Em algum lugar do apartamento sujo e infestado de insetos inconvenientes o despertador de Otávio tocava insistente. Este por sua vez dormia no sofá enquanto babava em seu travesseiro verde limão sem mover um músculo. Estava ali, pois havia chegado exausto do trabalho na noite anterior, deitara no primeiro lugar confortável que pudera avistar.
O homem então, só despertou ao ouvir um copo se quebrando, seu gato havia como das outras vezes pulado na mesa de centro, a qual era pequena demais para ambos.

Assim o morador levantou-se, tratou de dar um jeito no despertador (que foi encontrado após algum esforço, sobre várias peças de roupas) e quando enfim iria tomar banho, deparou-se com um lembrete na porta da geladeira o qual trazia escrito o nome Paola.
— Puts! - Disse levando as mãos a cabeça.
Havia esquecido da irmã, há esta hora a menina estaria plantada no aeroporto a pelo menos 30 minutos. Sem pensar muito Otávio de mau gosto vestiu a primeira roupa que encontrou, pegou suas chaves e saiu.
Sentada em uma das cadeiras desconfortáveis do aeroporto, Paola quase que encoberta por malas bufava, odiava esperar, e se o irmão que por acaso ela não conhecia fosse de fato assim, "um irresponsável" ela já não havia simpatizado com este.
Otávio agora no aeroporto (nada pequeno), não imaginava onde Paola estava, coçou rapidamente sua cabeça e suspirou, aceitar a irmã em sua casa já parecia uma má ideia. De qual quer modo só havia concordado, pois sua mãe havia insistido muito, uma vez que não queria que sua "pequena garotinha" morasse sozinha ou então em uma república cheia de marmanjos peludos.
Foi então que avistou uma montanha de malas, em uma delas havia um pedaço de papel grudado com fita adesiva de um modo grosseiro, nele havia seu nome, seguiu até lá.
— Paola? - Indagou fazendo com que esta parasse de digitar freneticamente em seu celular.
A menina o fitou por inteiro, claro que era seu irmão, por mais que não o conhecesse pessoalmente a mãe por vezes foi o visitar, trazendo desde fotos no estilo família feliz, até um endereço de facebook, que claro, Paola nunca visitou. Não adicionava desconhecidos.
— Atrasado! - exclamou.
— Desculpa, nunca escuto o despertador - Disse Otávio sem jeito já solicitando o carregador de malas, afinal, como já dito, eram muitas malas.
Já a caminho do apartamento, o silêncio imperaria não fosse pelo volume altíssimo o qual escapava dos fones da irmã, que calada, apenas encarava a nova paisagem. Otávio por sua vez preferia assim, acreditava que a menina seria como seu gato, o qual só precisava dar comida e abrigo.
Após algumas idas e vindas Otávio já havia esvaziado o carro, e estava subindo para o apartamento levando a última das malas a qual Paola ao abrir a porta de sua nova casa quase arrancou de suas mãos.
— Meu Deus, como você é lento! - Bufou.
Otávio a encarou sério, "que ótimo" pensou.
Quando entrou de vez em seu apartamento pode notar que olhando da porta a bagunça ficava pior, estava na hora de limpá-lo, porém notou a cara de nojo feita por Paola, que agora sim, menos aflita pela bolsa, pode notar o quanto o ambiente era nojento. Foi deste modo que Otávio naquela manhã, decidiu que não chamaria faxineira alguma, percebeu que poderia se aproveitar da "frescura" feminina e poupar dinheiro. Sentou-se no sofá enquanto a irmã o observava e arrancou os sapatos do pé, jogou sua meia que já passara da hora de lavar, há alguns metros, afundando-se no sofá.
— Sinta-se em casa. Seu quarto é onde eu guardo as roupas sujas, segunda porta à direita! - Disse enquanto ria, ao ver de relance Paola fazer a cara que mais faria durante os próximos anos, a de pânico.